ENTRE...

!NÃO ME ENTREGO SEM LUTAR.. TENHO AINDA CORAÇÃO, NÃO APRENDI A ME RENDER... Q CAIA O INIMIGO ENTÃO!
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Frase:

"É preciso amar as pessoas como se não houvesse o amanhã"

Hoje é..

quarta-feira, 13 de julho de 2016

CONVERSANDO COM O ESPELHO

Pois é Daniela, e já se passaram 35 anos. Você consegue se lembrar de como imaginarias estar aos 35 anos quando tinha 15?

 Lembro de muuuuuuuuuuuuitas coisas no caminhar desses 35 anos, e lembro que criava e fantasiava muitas situações que não compartilhava com ninguém. E de todas as imaginações a que mais era frequente era a que eu imaginava ter meu próprio computador, ter minha independência, ter carro e morar sozinha!

Quando eu ia no banheiro dos meus pais (eles não imaginam o quanto aquele lugar era um sonho pra mim), preciso detalhar porque estou revivendo esse momento agora, pena que não tenho fotos para ilustrar.

Quando meu pai reformou nossa casa, ele construiu uma suíte no quarto dos fundos e o acesso a suíte era pela primeira porta do guarda-roupas, antes mesmo de existir Nárnia ou monstros S.A. eu tinha meu mundo de fantasias a partir de um armário.

Quem entrava no quarto via só um quarto, mas ao abrir a porta do armário havia um banheiro, isso nos olhos das visitas, no meu tinha meu futuro.

O vaso sanitário ficava no canto da parede do fundo, o porta papel higiênico era de abrir e fechar, então eu tivara o papel higiênico, deixava a portinha aberta e aquilo era o meu teclado (eu era espiã, uma agente secreta) de frente tinha o lavabo com uma saboneteira anexada na parede, eu tirava o sabonete e girava ela de frente para mim, e tchanãaaa, ali era o meu pequeno monitor secreto, onde eu receba as informações confidencias de todo o mundo. Deixava de fazer o que tinha que fazer e ficava ali, sentada por longos períodos brincando de agente secreta.

Quando meu pai me levava de carro em algum lugar, e quando eu podia ir sentada do lado do caroneiro, eu não era só uma passageira, eu era a motorista. Muitas vezes o apoio que tinha na frente era meu volante e a alavanca de subir e descer o vidro era onde eu mudava as marchas.

Lembro de chorar muuuuuuuuitas e muuuuuitas vezes quando viva pessoas de cabelos brancos, vovôs e vovós levando sacolas e dizia que quando eu crescesse eu ABRIRIA UMA CRECHE PARA VOVÓS.

Também "catava" tudo quanto era gatos da rua e levava para os fundos da casa, meu irmão era meu cúmplice. Mas o pai não gostava de gatos e acabava sempre descobrindo nossos planos de salvar os bichos de rua.

Não sei porque, mas eu mal escrevia e desenha a parte da frente de casa com o número que eu copiava dando a entender que tinha fugido de casa, um bilhete pra avisar que tinha ido embora, eu nem me governava e ficava horas e horas na casa da vizinha da frente, da Neuza esperando até o momento que fossem sentir falta de mim e vim atrás, mas as vezes demorava tanto que eu até tinha esquecido, ficava brincando e voltava de boa que nem lembrava que tinha fugido.

Um dia eu fiz um bilhete e deixei na fruteira na cozinha dizendo que eu tinha ido embora de casa, era criança ainda, e me escondi atrás da máquina de lavar, que até então fica na saída da cozinha, e fiquei ali por horas e horas, acho que grande parte da minha paciência vem daí. Mas vi que ninguém passava por ali e reparava meu bilhete que tive que apelar pro meu irmão, ele me ajudou, fingiu que tinha visto o bilhete e mostrou pra mãe, não lembro se ele falou que estava escondida, mas tenho certeza que meus pais fingiam preocupação e falavam pela casa, Óh Meu Deus, para onde será que ela foi?

Eu queria tanto, mas tanto poder ir até a padaria sozinha, mas a mãe não deixava de jeito nenhum, talvez esse devia ser uns dos motivos pelo qual eu queria fugir de casa, mas conforme fui crescendo que daí eu podia ir, quando me pediam pra comprar alguma coisas eu nunca queria ir.

Geeeennntteee eu tinha pânico de ir pra escola e de dias de chuva com trovoadas, mas antes disso, eu enchia o saco da mãe que eu queria ir para escola junto com meu irmão, mas na minha cabeça escola é como se fosse um parque de diversões, com muita roda gigante, doces e festas. Larguei até a mamoca com quase 5 anos só para poder ir pra escola, e quando eu fui, que decepção! Nem podia ficar junto do meu irmão, cada um em uma sala fria com um monte de gente estranha, eu só queria a minha mãe!

Bom era mesmo ir na casa da vó Osélia, lá tinha meus tios malucos, eles batiam com garfos e facas na mesa e eu também "queremos comida, queremos comida". Meu padrinho me levava pra andar de moto, pra passear com o pacato, o Doberman que insistia em levar no veterinário para ficar com as orelha erguidas, mas não tinha "santo" que fizesse isso.

Talvez o que a maioria não saiba, é que nesta foto aí do lado, eu fui dama de honra dele, e foi um dia tão triste pra mim, eu sabia que estava perdendo meu padrinho, que agora ele não ia mais brincar de boxe comigo no ring improvisado com os colchões de solteiro ao redor do quarto, que não teria mais disputas entre ele e minha madrinha pra ver quem dava o maior ovo de páscoa, ele teve muuuuuuuuuuitas namoradas e eu conheci algumas delas, mas agora ele ia casar e ia embora, ia ter tempo só pra esposa e pros filhos, minhas lágrimas não foram como a da maioria, de alegria pela união do casal, mas sim porque sentia que uma parte legal da minha vida estava indo embora.

Ah, quanta coisa se passou nesses 35 anos! Se sinto saudades? Não, gosto de lembrar das coisas boas e das ruins também, eu faria tudo exatamente igual, mas não tenho vontade de voltar pra aquela época não. Lembro que eu não via a hora de fazer 18 anos, mas eu queria isso só por um único motivo, deixar de brincar que a alavanca do vidro do carro fosse o câmbio de marcha e poder dirigir de verdade. E essa vontade fez com que um bom tempo passasse em branco.

15 anos, uma festona, com muitas coisas nos bastidores. Uma delas que eu não queria mais ter essa festa, briga feia com meu pai por causa de um cachorro, um cachorro não, o BALU. Mas é claro que tinha outras coisas por trás, e no final, foi uma festa inesquecível, muitos comes, bebes, pessoas, música, passinhos, "modinha" gravata e saia pregueada com meião, na foto estava de calça porque pra dançar de saia rodada não dava muito certo. Nos meus 15 anos eu tinha esquecido quem eu fui e muito menos não sabia o que eu queria ser, fiz curso técnico em processamento de dados, mas nem peguei diploma, tive uma mega desilusão por causa do professor de COBOL, ele era Analista de Sistemas do Segundo Batalhão e nos tratava feito soldados, em época de prova andava pisando por cima de nossas carteiras, no terceiro bimestre eu tinha zero de média, e olha que eu amava informatica, a sorte foi que após reclamações e abaixo assinado ele saiu e a média era ponderada com peso 0,4 no último bimestre, em semanas eu consegui decorar 4 páginas da linguagem de máquina e tirar 10 na prova ir pra exame e tirar 10 e passar sem recuperação. O nome do professor era Renato, por onde será q anda esse cara? Será que ele sabe que grande parte do motivo pelo qual desisti de pegar meu diploma de programadora de computador foi dele?? A outra parte foi porque nos lugares que liguei que precisavam de estagiário de Clipper só contratavam RAPAZES, pois é, o preconceito era maior na época.

Por um lado foi bom, hoje sou TERAPEUTA OCUPACIONAL e amo essa profissão. OBRIGADA PROFESSOR RENATO!!!

Sempre fui uma guria de muita sorte, primeiro por ter os pais que tive, depois por ter em meu caminho a possibilidade de poder fazer o quis, por exemplo, quando decidi fazer faculdade de Terapia Ocupacional, não tinha perto de onde morava, já estava desistindo da ideia, mas pra minha SORTE, naquele ano uma universidade estava abrindo a primeira turma, fiz inscrição na hora, passei no vestibular e hoje é o que sou. Se eu fosse relembrar tudo o que tive sorte, bah, levaria muuuuuuuuuuuuuito tempo. Só sei que estou aqui, 35 anos depois

Um fato importante, na adolescência, na época das "brincadeiras" do copo, livro e caneta, uma pergunta ridícula veio com uma resposta clara, eu não chegaria nos 33 anos. Não sei porque lembrei disso agora, mas na época foi tenso. E hoje, mais do que nunca, eu sei que eu poderia nem ter chegado nos 18 e ter conseguido a tão esperada carteira de motorista, eu não sei até onde irei, só sei que eu to indo, o fim dessa estrada é certo, então eu decido com quem eu quero ir, e isso eu tenho mais certo do que o fim.

Quando criança, até os 7 anos mais ou menos, eu sei que vivia de gesso, um tampão do dedão decepado, pontos na cabeça, pé preso no aro da bicicleta, queda de muro, dei trabalho na infância, mas me considero com muita vantagem tendo chegado aos 35 com uma fratura de braço e sem a vesícula, ainda bem que as coisas mudam.

Sim, eu lembro o que e como eu queria ser, e hoje eu SOU exatamente o que queria, mas com muito mais coisas do que eu imaginava ter.

Emprego, saúde, independência, casa e carro, mas tudo isso só teve sentido pra mim porque tenho uma coisa que eu nunca sonhei ter, AMOR. Eu amo incondicionalmente e me sinto amada na mesma proporção.

Realmente, sou uma garota de muita sorte, se eu perder tudo, com amor lado a lado a gente recupera, mas se eu perder o amor, então nada terei.

É Daniela, você é uma garota de SORTE! Parabéns!